quinta-feira, 4 de julho de 2013

Bolsa, Pessimismo, Brasil, Japão...



Desde ontem fiquei interessado em estudar mais o famoso caso japonês e achei alguns links.

Preocupado com o Brasil? Afinal, vai retomar o TH ou afundar mais? Nem é isso. É que quero investigar até que ponto o investimento em ações continuará sendo o melhor que existe. E o máximo que já vi dar errado numa economia grande é o exemplo japonês.

Se alguém entrou em 1989, no meio daquela euforia toda, pegou o Nikkei em 38 mil e tanto. Se deu sorte, pegou em 30 mil. Se foi esperto, viu que era uma bolha, e esperou "desinflar" nos anos seguintes, pode ainda ter entrado em 20 mil. Pois bem, o problema é que até esse "precavido paciente" se deu muito mal. Afinal, há alguns meses o Nikkei era 8 mil. Mesmo hoje, num momento de otimismo para a economia japonesa, é 13 mil. Coitados. Quase vinte e cinco anos depois e ainda estão com mais de 50% de prejuízo.

Sempre dizem que é muito difícil um período de 15 anos de bolsa não ser razoavelmente lucrativo. Um dos blogueiros que acompanho tem até um estudo sobre o Ibov que mostra bem isso...

http://di-finance.blogspot.com.br/2012/11/historico-de-ibov-x-inflacao.html

... Fato é que a muitos japoneses sabem que a regra tem exceção. Espero que não muitas. O Nikkei em 2012 era o mesmo de 1982 - em que pese talvez certa deflação - e bem longe do Nikkei do final da década de 80. Ninguém quer esperar trinta anos ou mais pra ganhar na bolsa.

Aqui no Brasil, talvez não exista um período de 15 anos em que a aplicação (no Ibov) dê rendimento negativo. Ao que parece, o maior período de "paciência" foi pra quem entrou no topo de 1971 (salvo engano) e teve de esperar até 1985 pra começar a lucrar de novo (e por pouco tempo). 14 anos. Porém, se teve mais paciência, e guardou por mais 14 anos, saiu em 2001 com um rendimento anual muito bom. Se saiu em 2013, melhor ainda.

Em vez de narrar, vou disponibilizar alguns links - textos pequenos e textos grandes - sobre o que aconteceu com o Japão.

Alguns trechos mostram o quanto a coisa foi assustadora:

"O índice Nikkei, por exemplo, que mede a valorização das ações na bolsa de Tóquio, havia saltado de 13.113 no último dia útil de 1985 para 26.000 em outubro de 1987, chegando a 30.000 no início de 1988. Nessa data, a capitalização da bolsa de valores japonesa representava 41,7% da capitalização mundial. O nivel máximo de todos os tempos do Nikkei, 38.915, foi alcançado em dezembro de 1989. Apesar de superar três vezes os valores de quatro anos antes, a maior parte das previsões dos analistas de mercado para 1990 era de que o índice iria ale'm da marca de 40.000 e deveria chegar ao final do ano a 48.000.


Já o preço da terra começou a aumentar antes do boom do mercado mobiliário. Em 1983, os terrenos no centro de Tóquio já davam os primeiros sinais de valorização. O processo se estendeu posteriormente às áreas urbanas de Osaka e Nagóia para chegar, em seguida, às zonas rurais. O valor imobiliário do Japão, que era estimado em US$ 4,2 trilhões ao fim de 1985, aumentou para US$ 18,4 trilhões cinco anos depois.

Para se ter uma ideia do que se verificou em termos de valorização imobiliária, é conveniente lembrar que em 1990 poder-se-ia, teoricamente, comprar todo o território dos Estados Unidos, uma área 28 vezes maior que a do Japão, com a venda de apenas um quarto do arquipélago japonês. Muito provavelmente, o preço de venda de todo o território do Japão deveria, nessa data, corresponder ao valor do restante das terras emersas do planeta.

No início de 1989, o Banco do Japão finalmente adotou uma política restritiva de crédito. A taxa de desconto, conforme o Gráfico, foi continuamente aumentada, saindo de um mínimo de 2,5%, no primeiro trimestre de 1989, ate atingir 6%, no terceiro trimestre de 1990. Entretanto, como nem a bolsa de valores nem o mercado imobiliário responderam rapidamente à nova política monetária, o Ministério das Finanças decidiu ordenar aos bancos, no início de 1990, que limitassem os empréstimos destinados a imóveis. Só então a bolha cedeu.

O resultado imediato foi uma queda sistemática e pronunciada do índice Nikkei. No dia 2 de abril de 1990, quatro meses após atingir seu nível máximo, o índice haviase reduzido a 28.002, chegando a 20.221 no dia l0 de outubro para se sustentar abaixo desse nível em 1992. A desvalorização abrupta deixou em situação ilíquida as empresas e as famílias que haviam se endividado para investir cm ações, na expectativa de o mercado continuar sua tendência altista (ver o Gráfico 2).

A despeito de o pânico ter se instalado nas bolsas de valores, o preço da terra continuou se valorizando. Parecia que o mito da terra era realmente uma realidade. No Japão existia, até então, um axioma de que os preços dos terrenos não podiam cair. De fato, as estatísticas mostravam que um lote residencial em uma grande cidade teve seu valor multiplicado 135 vezes entre 1955 e 1985, contra sete vezes no caso de um depósito a prazo.

A partir de 1985, as empresas e as famílias aceleraram seus investimentos em imóveis. Para tanto, fizeram uso de volumosos empréstimos junto aos bancos. Entre 1985 e 1989, a carteira imobiliária dos bancos aumentou de 17 para 43 trilhões de ienes _ o equivalente hoje a US$ 400 bilhões. Do mesmo modo, as instituições financeiras não-bancárias também se lançaram agressivamente nesse mercado. O sal- do total de empréstimos dessas instituições cresceu, no período, de 22 para 80 trilhões de ienes, dos quais 32 bilhões representavam aplicações direcionadas para a compra de imóveis. Novamente, o risco dessas instituições recaía sobre os bancos, que haviam financiado 80% de seus ativos."


Verdade é que o Japão é sempre lembrado nesses momentos de pessimismo. Houve um momento semelhante, mas menos pior, meio de 2011, época do rebaixamento da nota da dívida soberana dos EUA. Falou-se no exemplo Nikkei para explicar os temores de então:

"Os indicadores econômicos divulgados na semana passada reforçaram temores de um cenário global de estagnação econômica prolongada, com focos de pressões inflacionárias mais fortes. Baseado nos dados referentes ao segundo trimestre, economistas têm sugerido que todo o ocidente e mesmo o mundo inteiro possa estar entrando em um longo período de baixo crescimento econômico, com recorrentes derrapadas recessivas, que iriam acontecendo em países ou blocos, de forma sucessiva. Nesse caso, o planeta estaria seguindo os passos do Japão, que iniciou esse processo no começo da década de 90, com o episódio que ficou conhecido como ‘o estouro da economia-bolha’. Entre 1990 e 1992, os preços de ações e de imóveis em zonas urbanas caíram praticamente à metade.

(...) Em dezembro de 1989, o Nikkei alcançou seu recorde histórico, cravando 38.915 pontos. No começo de 1990, a grande maioria dos analistas previa que o índice chegaria a dezembro na casa dos 48.000 pontos. Pois bem, mais de 21 anos se passaram, e o índice fechou a última sexta-feira em 8.719 pontos. Grosso modo, quem seguiu as recomendações de analistas na época e apostou na continuação da valorização de ações japonesas teve seu investimento reduzido (em termos nominais), nessas duas décadas, em 4,5 vezes."

http://www.jcom.com.br/noticia/135450

Por último, vale disponibilizar uma monografia referente ao assunto. Não sei se é boa, pois não li:

http://www.scribd.com/doc/149189798

Após tudo isso, vale perguntar duas coisas:

a) o que há de semelhante (ou até "pior")?

Ibov passou por uma valorização muito rápida e intensa. 2003 a 2008 ou mesmo 2003-07 representam uma valorização semelhante a que a bolsa japonesa experimentou entre 1985 a 1989 ou mesmo 85-89. Na verdade, o Ibov foi até mais forte (pode ter sido, porém, a inflação). Isso com uma economia crescendo talvez em ritmo menos acelerado que o "Japão--80-90".

Ademais, de 74 a 82, o Nikkei oscilou entre 3000 e 8000 pontos. Começou a decolar forte por volta de 83 quando só começou a cair no TH de 90, quase 40.000 pontos.

Não foi tão diferente com o Ibov. Basta trocar 74 por 94; 82 por 2002; 90 por 2010 ou 2008 se preferir. Em verdade, o Ibov sobe mais de 94-2010 que o Nikkei de 74-1990. (o que pode deixar qualquer um bem desconfiado).

Nosso crescimento é, então, ainda mais maluco que o japonês? É possível que não, já que essa comparação certamente deixa de fora inúmeras variáveis importantes como "contextos anteriores" (um índice pode estar corrigindo uma subvalorização anterior e outra não, por exemplo) e o efeito da "inflação" nesses inchaços aí, o que certamente aumenta o rendimento do Ibov.

Aqui muito se especula também sobre se haveria uma bolha imobiliária, eis que o preço dos imóveis parece nunca parar de subir. Entretanto, muitos consideram é que é pelo investimento ser bom mesmo, já que muitos precisam de terra/moradia e nunca tiveram. Mesmo que exista bolha, parece que a do Japão foi a atípica das atípicas.

b) O que há de diferente?

Como já disse, contextos. O Ibov subiu rápido em cinco anos, mas vinha de estagnação de seis anos e não tão distante de uma megaestagnação 73-86. Já o Nikkei já vinha embalado, o que tornou tudo ainda mais impressionante. Desde o pós-guerra, 1950, praticamente só subia. Os percalços foram infinitamente menores que os do Ibov. Isso, 40 anos de alta quae constante, pode ter gerado um descolamento maior da "realidade". Eu digo "pode" porque, se for olhar outro aspecto, o crescimento real da economia japonesa também foi fora do normal no período.

http://schwert.ssb.rochester.edu/japan.pdf

http://www.finfacts.com/Private/curency/nikkei225performance.htm

Outra diferença é que boa parte da "inflação acionária" veio de uma prática exagerada de parte do grande setor produtivo japonês de investir a maioria dos lucros não na ampliação da atividade produtiva, mas em operações financeiras, visando lucros não-operacionais.

Ademais, os alertas lá eram mais graves, como P/L de 80 a 100 de algumas empresas, segundo contam.  Tudo bem que aqui temos a "RADL3" que é 70, mas é diferente. Segundo um blog, 70 foi o P/L médio da bolsa japonesa na época. Realmente inacreditável! (Pra mim esse é o argumento definitivo sobre o assunto, a não ser que alguém me apresente algum conhecimento novo a respeito).

Para se ter uma ideia, vi, noutro texto, que o P/L médio, num longuíssimo período definido (que não lembro), das empresas do DJI é de 16.

Tem chance de o pesadelo virar realidade? Acho que pouquíssima. Mas o fato de haver algumas semelhanças, é um leve susto.

(Obs: informação provisória que tive depois e que torna a comparação bem mais difícil. O Nikkei, assim como o DJI e contrariamente ao Ibov, não inclui dividendos automaticamente reinvestidos, o que talvez ajude a explicar alguns desempenhos excepcionais da bolsa brasileira em relação à japonesa)

A.

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